A educação como constrangimento para o esquizofrénico

PorElsa Fontes*,1 fev 2024 17:15

Com vista à materialização da política educativa, o Plano Estratégico de Educação tem o objetivo de garantir a assunção plena dos compromissos da governação, que visam enfrentar os desafios para se garantir uma educação de qualidade a todos os cabo-verdianos, reduzir as desigualdades em todo o território nacional, com foco nas especificidades da sua população e exercer uma cidadania ativa, incorporando os princípios do respeito pelos direitos humanos, a sustentabilidade socioambiental, a valorização da diversidade e da inclusão social.

Este tipo de educação, faz enorme diferença. E mais: trata-se de encontrar um novo paradigma de vida, de vida sustentável, que possa renovar nossos sistemas de ensino e lhes dar sentido, como sustenta a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável da Nações Unidas (Unesco, 2005).

1. O que é qualidade? - Qualidade é a categoria central deste novo paradigma de educação sustentável, na visão das Nações Unidas. Mas ela não está separada da quantidade. Até agora, entre nós, só tivemos, de fato, uma educação de qualidade para poucos. Precisamos construir uma “nova qualidade”, como dizia Paulo Freire, que consiga acolher a todos e a todos.

Qualidade significa melhorar a vida das pessoas, de todas as pessoas. Na educação a qualidade está ligada diretamente ao bem viver de todas as nossas comunidades, a partir da comunidade escolar. A qualidade da educação não pode ser boa se a qualidade do professor, do aluno, da comunidade é ruim. Não podemos separar a qualidade da educação da qualidade como um todo, como se fosse possível ser de qualidade ao entrar na escola e piorar a qualidade ao sair dela.

Por isso o tema da qualidade é tão complexo. Não basta melhorar um aspeto para melhorar a educação como um todo. Se fosse fácil resolver o desafio da qualidade na educação, não estaríamos hoje discutindo esse tema. Um conjunto de fatores contribuem para com a quantidade na educação. O que é educação de qualidade? Para a Unesco, “a qualidade se transformou em um conceito dinâmico que deve se adaptar permanentemente a um mundo que experimenta profundas transformações sociais e económicas. É cada vez mais importante estimular a capacidade de previsão e de antecipação. Os antigos critérios de qualidade já não são suficientes. Apesar das diferenças de contexto, existem muitos elementos comuns na busca de uma educação de qualidade que deveria capacitar a todos, mulheres e homens, para participarem plenamente da vida comunitária e para serem também cidadãos do mundo” (Unesco, 20001:1).

O Documento de Referência da Conferência Nacional da Educação (MEC, 2009) refere-se à qualidade da educação no Eixo II, associando este tema ao da gestão democrática e da avaliação. Não há qualidade na educação sem a participação da sociedade na escola. A garantia de espaços de deliberação coletiva está intrinsecamente ligada à melhoria da educação e das políticas educacionais. Só aprende quem participa ativamente no que está aprendendo.

Bem como o desafio nacional é assegurar o acesso pleno de crianças e jovens dos 6 aos 17 anos aos ensinos básico e secundário, incluindo a ampliação da oferta de educação técnico profissional. Para o efeito, para além da imprescindível colaboração entre os serviços centrais, desconcentrados e as escolas secundárias, tem de se proceder ao acompanhamento da trajetória de cada escola, acionando instrumentos de monitoramento e de avaliação contínua.

A recente mudança política na governação de Cabo Verde trouxe outras perspetivas sobre os desafios que se colocam ao país. Neste contexto foi construído um Projeto Educativo gerador de “um perfil cosmopolita, capaz de interiorizar valores intrínsecos ao saber ser e estar, de preparação para a aprendizagem ao longo da vida e para uma cultura de investigação, experimentação e inovação”.

Estas mudanças conduziram a estratégias que passam pela (re) organização da rede escolar e da gestão administrativa e pedagógica das escolas e pelo alargamento da participação da comunidade nas escolas, reforçando-se, assim, a dimensão pedagógica e o contexto social em que se inserem. Como estará o estado de arte da inclusão social desde esta altura.

Sobre a análise da questão da educação e da qualidade de ensino no contexto das políticas educativas e inclusivas[1], desde 1980 que o autor se vem ocupando em pesquisar a educação como política pública, principalmente (vias vocacionais e não só) programas e projetos destinados à educação infantil e ao ensino fundamental, tendo sempre por ponto de alavancagem a questão crucial da necessidade de elevação dos padrões de escolarização.

Para Fidalgo (2009:339), a regulação é um processo integrado de checks and balances, no qual há uma fragmentação do poder pelos diversos intervenientes de modo a impedir que “algum deles ganhe uma proeminência excessiva na defesa parcelar dos bens que mais especificamente estão vocacionados para preservar.

De acordo com os autores Sousa e Pinto et al (2012:5), a grande maioria dos países europeus “(…) tem ou está a instituir organismos de regulação mediática (frequentemente designadas “autoridades independentes”), isto é, com autonomia administrativa e financeira face aos governos.

Em tal quadro, este amplo objeto vem sendo recortado, de entre outros modos, a partir de preocupações com as características do regime de colaboração e, portanto com as formas de articulação entre as distintas esferas governamentais; o modo de atração das municipalidades e os diferentes perfis que configuram o poder local e suas coletividades; os diversos padrões que assume a regulação, seja expressa pelas normas legais (na regulamentação), seja pela forma que tomam programas e projetos, tendo em vista os agentes com eles envolvidos, incluem a participação da sociedade civil no controlo social da sua implementação, bem como as proposições ao concorrentes.

O conceito de administração escolar e da administração da educação, encontra as suas raízes histórico-teóricas na vertente das ciências da administração, advindas dos pressupostos de Taylor e Fayol, concebida para a dinamização dos processos produtivos nas sociedades industriais e que foram mais tarde, aprimoradas pelo fordismo (Sander, 2007). Trata-se da configuração dos elementos do tipo ideal de dominação legal racional, de acordo com a categorização feita por Max Weber (1991).

Com Weber, nesta relação o Estado assume um papel preponderante, intervindo na satisfação das mesmas numa situação de compromisso entre as orientações da produção e do consumo. A assimilação desta lógica pelos autores liberais Keynesianes, entregando ao poder político a determinação e a regulação das necessidades básicas, de acordo com o processo de regulação das forças produtivas e salvaguardando como objetivo final a reprodução do sistema económico e de relações sociais, reconstitui, paradoxalmente, o ciclo fechado e economicista da visão marxista da história.

Já, porém, com Bourdieu, através do conceito de habitus, é-nos permitido escapar de algum modo a este determinismo. O habitus introduz o fator subjetivo, sociológico, na visão economicista. São então comandados pelo medo da fome, da perda de alojamento, do emprego, da insegurança familiar, pessoal, etc.

Como diz Roger Gal, a história da educação constitui a verdadeira história do homem, da imagem que dele se faz ao longo de história. As necessidades não satisfeitas têm igualmente um papel essencial nas revoluções. Mas um grande grau de carência ocasione situações, que, no limite, não permitem que as aspirações se manifestem, ficando por detrás das preocupações tornadas angústias coletivas.

Uma força ativa de reivindicações denota-se não só entre classes, mas também entre grupos étnicos, profissionais, políticos, intelectuais, etc. As aspirações sociais tornam-se também visíveis, em dado momento, sobretudo quando se acumulam muito tempo sem se poderem realizar o motor de revolução e ruturas. De um sistema de valores dominantes (ideológica ou politicamente), tendem a transformá-lo consoante a conjuntura económica, a evolução demográfica, urbana, os quadros culturais, as crenças e os mitos. Quando as aspirações de um grupo que se opõe a outro, tornam-se deste modo numa tensão social, podem constituir uma das causas de anomia social em determinadas épocas e sociedades.

É evidente que as aspirações sociais, entendidas nas suas componentes psicossociais, culturais e económicas, tanto dependem de diferentes fatores entre si. As necessidades e aspirações são o principal fundamento e origem das mudanças sociais. A dinâmica social, está no hiato da tensão entre as necessidades de sobrevivência e o desejo transformado em aspiração social. Pelo que somos levados a admitir a hipótese de que não são reconhecidos, daí a perceção de exclusão social.

A família surge aqui com um papel importante nas aspirações, na sociabilidade e no encontro de soluções para os seus entes com vulnerabilidades além de toda a comunidade. Falamos aqui de sociedade civil e, claro, do tratamento de especialistas. Igualmente, de valores próprios de uma sociedade de um meio e de um grupo. Isto é, as aspirações mais pessoais estão em relação com o indivíduo, mas também com a situação e o papel social de quem as sente, situando-se assim no conjunto pessoal e social.

No inconsciente das pessoas, o doente mental, neste caso esquizofrénico, explicita-se em ações no quadro social da inserção do indivíduo, na sua identidade, em instituições totais, num contexto de sociologia, filosofia e família.

Logo que um desejo se explicita em aspirações (desejo voltado para um objeto), o objeto é valorizado em função de um sistema integrado e contínuo.

– Para onde vão os nossos outros diferentes?

Lembrando Viver com Esquizofrenia, pelo dia Mundial de Saúde Mental, em que houve o XIV Fórum, em 2014, a Associação Aponte pediu a Luzia para dar o testemunho ao público, o que foi feito com um grande abraço, pelo meu discurso e por me aceitarem como sou.

Ora, sabemos que este é o Ano Mundial da Saúde Mental e Emocional e nada mais óbvio que sejamos ouvidos, entre os mais pobres, num País de Rendimento Médio.

Este transtorno é uma doença mental grave tida como incapacitante e infelizmente bastante estigmatizada. Significa uma vida, esperar pelas inevitáveis com suas consequências, muitas vezes desastrosos. Apenas a farmacologia e as abordagens psicossocial, embora realistas, não são suficientes, o compromisso depende da auto-ajuda, do cuidador nas instituições totais, da família, segundo Erving Goffman.

Sugerimos a filosofia para tratar este tema…pois todos somos filósofos até sermos clarividentes.

SOMBRA AZUL

Segundo Elsa Fontes, o bipolar no trabalho é um ser incompreendido, pois é perfecionista e produz com muita rapidez. Às vezes chega a «irritar» a liderança, em qualquer das áreas a que pertença.

Ela presencia cenários de bullyng verbal, pois ao realizar as tarefas com excelência há cortes que lhe «azarentam» o dia.

O bipolar quando trabalha fá-lo com consciência de qual é o seu lugar e o seu trabalho, cumpridor sem maldade dos seus deveres, o que é a sua obrigação, desdenha sem se ressentir dos «maus olhados», trabalha com muito empenho, sabe que o faz com os valores trazidos dos seus, sem achar que a sua vida é uma «bodega», como comportamento dos outros aparenta ser e é.

Ultimamente é posto em causa – talvez por causa do regime atual – qualquer sinal de agitação pois temos que ser exemplares no significado literário da liderança e dos seus cordeiros ou raposas seguidores…

É bem verdade que como Tung diz:

Ocorre que, em algumas épocas da vida, o bipolar é muito cheio de energia, podendo trabalhar 36 horas seguidas, realizando as tarefas de uma semana inteira em apenas um dia e meio. A diretoria fica feliz com os resultados e passa mais trabalho para ele, depositando muitas esperanças nele. Meses depois, no entanto, o profissional pode vivenciar sua fase depressiva e ter dificuldade, inclusive, de ir ao trabalho.

“Ele dorme demais e não consegue acordar na hora, ou dorme pouco e não rende. Há bipolares que arranjam várias coisas para fazer à noite e acabam indo dormir muito tarde. Como resultado, não conseguem acordar na hora e chegam atrasados, mas não alguns minutos atrasados, e sim horas. E se conseguem levantar da cama, ficam cansados durante todo o dia”.

No romance escrito por Fontes, Sintonia em Claro-Escuro, ela fala de sintomas por que passa, mas que, com determinação, força de vontade e coragem, não imiscui trabalho com lazer, embora o sistema diga que ela está certa, pois parece que no país se vive mais para o contrário… paradoxal? Ou contraditório… Os deuses devem estar loucos…do stress fala, mas não se procura parar… não para chegar ao poder, mas sim para interromper o trabalho quer na empresa, função pública ou no particular… particular à parte é tudo pó da mesma massa.

Tung, reforça o que Fontes diz. A impulsividade é a característica marcante do bipolar. Eles falam e fazem o que querem, sem pensar muito. Isso pode ser bom ou não. Bom, porque são poucos os profissionais ousados, criativos, que não têm medo de arriscar. Lendo o romance pode-se notar é corrente pensar-se que o bipolar coloca a empresa em situações de risco e vulnerabilidade. Ao ocupar um cargo de chefia, a pessoa com transtorno bipolar pode acabar sendo injusta e agressiva, embora muitas delas sejam carismáticas e tenham características de líder.

De qualquer maneira, na fase eufórica, o bipolar é muito criativo e “trabalha, trabalha, trabalha”, nas palavras de Fontes[2]”. São os executivos que acabam bem-sucedidos no mercado. Porém, apesar do bipolar fazer muito sucesso na sua fase eufórica, pode, de repente, stressar-se, mas não fica deprimido. E então entra num ritmo lento, fica largado, mas consegue ir ao trabalho.

Há bipolares que passam a vida toda no estado eufórico. Agitados, podem progredir nas empresas. Enquanto outros podem passar a vida deprimidos. O problema da fase deprimida é que ela implica diminuição da produtividade e na quantidade e qualidade do trabalho e pontualidade pois produz a tempo inteiro, em quase 8 horas ou mais.

“O líder que é bipolar, mas que tende à depressão, geralmente é aquele de quem ninguém gosta. Está sempre irritado e triste, é chato e perfecionista. Ninguém o suporta”. Ainda existe aquele com transtorno bipolar que está sempre a “flutuar”. Às vezes, está bem, outras vezes, está mal. A produtividade cai, mas Ele faz de tudo para disfarçar.

Depressão versus transtorno bipolar

Deve-se estar atento ao diagnóstico de depressão. Isso porque metade das depressões é bipolar. “Transtorno bipolar é muito confundido com depressão, mas na maturidade da doença crónica não se fala em depressão, mas sim de felicidade e amor, segundo Elsa Fontes. A diferença é muito, muito subtil. Os médicos estão a começar a estar preparados para fazer o “diagnóstico correto”, em Cabo Verde e Portugal, por onde passou Luzia.

Pode ser difícil conviver com uma pessoa diagnosticada com transtorno bipolar, porém é preciso lembrar que para ela também não é fácil. As alterações constantes de humor e os efeitos do tratamento têm forte impacto na sua vida.

Por isso, é essencial não considerar a convivência como um desafio. Existe um velho ditado que Elsa Fontes cita “se você não pode ajudar, também não atrapalhe”. Traduzindo para essa situação: se você não sabe ou não quer lidar com o seu colega bipolar, também não alimente as suas crises.

Existem algumas ações que vocês podem fazer se quiserem cooperar para deixar o dia a dia da pessoa e o seu mais agradáveis. Confira alguns pontos importantes que foi selecionado do Grupo de Autoajuda da ADMD:[3]

Não faça pré-julgamentos: a sua opinião não é o comentário profissional que a pessoa precisa ouvir;

Aceitação: trate o distúrbio do colega sempre com respeito;

Diálogo: converse com a pessoa se ela teve um comportamento bipolar e deseja falar sobre isso com você;

Seja empático: tenha bastante paciência, compaixão e seja solidário;

Consciência: esteja ciente de que poderá ter que presenciar crises de euforia ou depressão;

Atenção: fique atento em relação a possíveis comentários sobre suicídio. Comportamentos desse tipo devem ser informados a família e ao médico;

Disposição: esteja disponível para conversar sempre que a pessoa precisar;

Incentivo: seja um estimulador para que a pessoa continue o tratamento com remédios e com o psicoterapeuta.

Superproteção: é muito bom ajudar ao colega, mas não se esqueça de ser honesto. Não é preciso proteger o colega de críticas construtivas;

Autoconhecimento: entender-se a si mesmo é mais um passo para aprender a entender as pessoas à sua volta.

E segundo Elsa Fontes, rir, dançar (deixai-nos ser felizes!) e, sobretudo escrever é o melhor remédio, junto com a terapia medicamentosa ajustada a cada um bipolar.

Sobre o que é o transtorno bipolar, possíveis causas, tratamentos e como é importante respeitar quem possui essa condição, chega a hora da autoajuda, a arte de se ajudar. Trabalha em ti, como melhorar os seus comentários e atitudes em relação a este problema.

De Tung[4], passo para o tango da vida (de D. Pedro), a Susaninha, a Mafalda em vida. A «normalidade» em mim repousa na dança dos lobos, no pianista, no Fiel jardineiro, em O Paciente Inglês e O Silêncio dos Inocentes que me preocupa mais… serão os dos anos 80”, 90”, da 3ª ou 4ª geração, que rica juventude… em cima do Morro, ou do Muro. Cuidem-se, e vão à LUTA, a Arma foi feita, nós devemos continuá-la.

O alcoolismo prejudica e bem conforme refere a psicóloga clinica e Mestre em Políticas e Serviços de Saúde Mental – Dra. Francisca Alvarenga Varela, no seu artigo seguinte sobre “Alcoolismo: Epidemiologia, Rastreio e Intervenções Breves”.

Numa perspetiva de Saúde Pública, o consumo do álcool é significativamente responsável pela carga de mortalidade e morbilidade. A nível mundial os problemas relacionados com o álcool estão entre os principais fatores de risco de morte prematura e incapacidades. O álcool, durante o ano de 2004, foi responsável por mais mortes no mundo do que o SIDA e a tuberculose, cerca de 3,8% (2,5 milhões) das mortes ocorridas nesse ano (WHO, 2010). O consumo nocivo do álcool constitui um importante fator de risco evitável para as doenças neuropsiquiátricas e outras doenças não transmissíveis como doenças cardiovasculares, cirrose hepática e câncer. O consumo do álcool está ligado a mais de 60 problemas de saúde devendo acrescentar, ainda, os ligados a outros domínios que não os da saúde (OMS, 2008), onde os custos económicos são ainda maiores.

Em Cabo Verde, vários estudos e inquéritos realizados nos últimos anos mostram um elevado nível de consumo do álcool na população geral. Os resultados do estudo na população geral, realizado pela CCCD (Comissão de Coordenação do Combate à Droga) em 2012, mostrou que 63,5% da população tinha consumido álcool ao longo da vida, 53,1% nos últimos 12 meses e 42,5% nos últimos 30 dias, sendo que na faixa etária dos 25-34 anos os resultados do consumo sobem para 68,1, 59,4 e 49,3% para cada uma das situações anteriores (MJ/CCCD, 2013). Resultados idênticos tinham sido encontrados no Inquérito sobre fatores de risco para as doenças não transmissíveis, realizado em 2007 pelo Ministério da Saúde, sendo que 53,2% dos inquiridos tinha consumido nos últimos 12 meses e 40,3% nos últimos 30 dias, com o maior consumo na faixa etária dos 25-34 anos. Todos os estudos realizados em Cabo Verde indicam a experiência do consumo do álcool em idades muito precoces à qual se pode acrescentar toda a realidade sociocultural cabo-verdiana atual, com várias ocasiões e eventos de promoção do consumo do álcool. Estes dados, relativamente à população jovem, são tanto mais preocupantes se atendermos às evidências quanto aos efeitos do álcool no cérebro dos adolescentes, hoje em dia bem documentados, entre eles:

O consumo do álcool, em particular a intoxicação massiva (ex: “binge drinking”) tem efeitos neurotóxicos assinaláveis no cérebro adolescente, com consequências na capacidade de aprendizagem e memorização;

Um importante consumo pontual durante a adolescência afeta o aparecimento de novos neurónios (neurogénese);

Estudos realizados em animais confirmaram a maior vulnerabilidade aos transtornos ligados ao álcool em sujeitos adultos que foram expostos à intoxicações repetitivas na adolescência.

Todos estes conhecimentos reforçam a ideia de que é importante evitar ou retardar o quanto possível a experiência de consumo do álcool.

Os relatórios das Delegacias de Saúde dos últimos anos têm revelado o peso do álcool nas causas de óbito, internamento ou doenças em tratamento prolongado. Os relatórios dos Hospitais Centrais, em particular os Serviços de Psiquiatria bem como os últimos relatórios estatísticos do Ministério da Saúde, permitem também inferir sobre o peso das consequências do álcool.

Como para todas as políticas que visam a melhoria da saúde pública, uma política em matéria de luta contra o álcool e problemas relacionados deve basear-se em um conjunto de conhecimentos sólidos e as estratégias devem fundar-se também em pesquisas científicas sólidas, socorrendo-se dos dados disponíveis. Neste sentido, os elementos fornecidos pela pesquisa devem, efetivamente, ser introduzidos na política e na prática.

As recomendações para a introdução do rastreio na rotina dos serviços veem de há alguns anos. Os problemas relacionados com o álcool não se limitam, apenas, às situações de dependência alcoólica, tal que definida pelos critérios da Classificação Internacional das Doenças da OMS (CID-10) ou o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV). Com efeito muitos indivíduos sem serem ou melhor antes de responderem aos critérios diagnósticos de dependência apresentam vários problemas devido ao consumo do álcool. As intervenções são igualmente importantes nestes indivíduos como naqueles que são dependentes, podendo contribuir para evitar que evoluam para a dependência. Muitas pessoas, nestas condições, procuram os cuidados de saúde para outros problemas, mas, em geral, não mencionam a questão do álcool. Estima-se que entre 10 a 40% já tem problemas com o seu consumo ou o consumo irá contribuir para o seu problema médico atual ou potencial. As intervenções em fases iniciais melhoram muito o prognóstico. Muitas intervenções podem ser desenvolvidas a nível dos Cuidados Primários que podem responder, com eficácia, aos problemas que se colocam a este nível. A importância do rastreio dos problemas relacionados com o álcool justifica-se, tendo em conta que a presença destes problemas pode complicar a avaliação e o tratamento de outros problemas médicos ou psiquiátricos (Schuckit, 2009).

O Comité da OMS dos peritos dos problemas relacionados ao consumo do álcool considera três aspetos no que diz respeito à intervenção e tratamento precoces:

Uma abordagem humanitária para aliviar o sofrimento humano;

Um método que permite reduzir o consumo do álcool e seus malefícios na população;

Uma forma de reduzir os custos dos cuidados de saúde ligados ao consumo do álcool (OMS, 2007).

Foi demonstrado em vários estudos internacionais a eficiência das Intervenções Breves na deteção precoce de problemas relacionados ao álcool. No Reino Unido, por exemplo, autores consideram que as intervenções breves deveriam ser utilizadas com pacientes que não procuram os serviços de saúde especificamente para problemas relacionados com o álcool, podendo estas intervenções não ser necessariamente dispensadas em ambientes especializados ou por profissionais especialistas (Raistrick, Haiter, Godfrey 2006).

Em termos de custo eficácia estas intervenções são de considerável pertinência tendo em conta que profissionais não especialistas como médicos clínicos gerais e outros profissionais, particularmente nos cuidados primários, como enfermeiros, assistentes sociais, desde que capacitados para intervirem junto aos pacientes com uso abusivo e nocivo do álcool. Podem ser necessários apenas alguns minutos, 20-30 minutos ou mesmo mais do que uma sessão. Existem estudos que demonstram a efetividade destas intervenções em pacientes que procuram os serviços dos cuidados primários de saúde, mas que não pediam ajuda para problemas relacionados com o álcool (Bertholet et al., 2005). Estudos da OMS demonstraram, igualmente, que as Intervenções Breves podiam produzir mudanças significativas em pacientes com consumo do álcool, utilizando poucos investimentos em tempo e recursos (Babor, 2008). Se estas intervenções são implementadas na rotina dos diferentes serviços da atenção primária, o impacto que pode resultar a nível da saúde pública pode ser considerável. Existem resistências que deverão ser ultrapassadas. Entre as razões apontadas pelos profissionais constam a falta de tempo, formação inadequada, receio de antagonizar com os pacientes, o uso do álcool não ser assunto para os cuidados primários de saúde ou então que os problemas do álcool não respondem a intervenções feitas nos cuidados primários (Babor et al., 2004). Vários estudos realizados nos Estados Unidos mostraram a eficácia do rastreio e das Intervenções Breves na diminuição da ingestão do álcool em pacientes de risco. Vários ensaios clínicos comprovaram também que as Intervenções Breves reduzem o nível global do consumo do álcool, alteram os padrões de consumo nocivo, evitam futuros problemas relacionados com o álcool, melhoram a saúde e reduzem os custos com os cuidados de saúde (Babor, Higgins-Biddle, 2001). Os resultados das pesquisas mostraram, igualmente, a eficácia das Intervenções Breves na redução do consumo do álcool em indivíduos do sexo masculino e feminino bem como nos adultos e jovens adultos. (REF)

A Organização Mundial da Saúde concebeu e validou um instrumento de rastreio – o ASSIST (Alcohol Smoking Substance Involvement Screening Test) que permite identificar as pessoas em risco e orientá-las para os adequados níveis de tratamento. Este projeto inclui a capacitação em Intervenções Breves o que permite aos profissionais dos cuidados primários ou de outros serviços intervirem nos casos que não revelarem necessidade de encaminhamento para tratamento com especialistas. O questionário foi validado para Cabo Verde e vários profissionais de saúde têm sido capacitados desde 2007. Alguns estudos já foram realizados na população cabo-verdiana tendo sido utilizado o instrumento ASSIST e os resultados indicam ser possível, com poucos recursos, implementar, na rotina dos serviços, intervenções adequadas, que poderão contribuir para a redução dos problemas decorrentes do consumo do álcool.

Este artigo é parte de uma Dissertação de Mestrado em Políticas e Serviços de Saúde Mental intitulado “Prevalência do Consumo do Álcool em dois Centros de Saúde da Praia e num Centro numa Zona Rural, Picos – Ilha de Santiago – e apresentado na Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa, em Fevereiro de 2013, sob orientação do Professor Benedetto Saraceno).

Daí fazer uma abordagem anteriormente, paralela, a da doente mental e a educação.

No quotidiano, o esquizofrénico enfrenta grandes problemas na área da educação que é necessária para um melhor acesso para as pessoas com doença mental graves.

Não nos podemos esquecer que em Cabo Verde os transtornos mentais ainda são “parente pobre” e fazendo uma leitura aos programas de governo pouco se encontra dados relevantes sobre este sub-eixo da saúde. A saúde pública começa a dar sinais de alguns fatos, mas os actos demoram. Não podemos esquecer que somos evasionistas, sonhadores e ambicionamos mais, num país pobre e por isso de emigração e as consequências podem ser positivas, mas também negativas senão forem bem sucedidas.

Conclusão

Em jeito de conclusão, sabendo que um livro é uma obra inacabada, juntamo-nos ao presente Ano Mundial de Saúde Mental e Emocional, para partilhar com todos o caso por nós tentado sobre o transtorno da doença mental grave.

Sombras Diversas, onde se introduziu a Sombra Azul, de um azul nostálgico e as sombras por nós criadas são um mar de cores, que para nós definem estes doentes, pois à critica do “dodu”, há “folie”, uma alegria contagiante para eles, e de gozo para eles.

Sombras Diversas porquê?

Porque pode muito bem ser causa-efeito de outras maleitas à incidência da esquizofrenia. Ou seja, pode ser despoletada por outro tipo de malefícios como drogas ou a esquizofrenia pode arrastar no seu mal o consumo de outras drogas que contribuem para uma maior atividade violenta e as taxas mais elevadas de vitimização. É um ciclo vicioso e para nós há que mais do que criticar a loucura tem-se que apostar na prevenção e promoção da saúde mental comum conjunto de entidades e a nossa contribuição em espécie de desafio espera ter e ser a voz dos que gritam socorro e ainda não têm o lugar sem ser ao sol todo o dia a vadiar.

No livro da A Ponte “Viver com Esquizofrenia”: citando:

O inadequado termo “Esquizofrénico” é, comummente usado pelo publico e até mesmo por alguns prestadores de cuidados para se referir a uma pessoa que esta a viver com Esquizofrenia.

Este termo mancha a natureza humana e social da pessoa, tornando-a apenas como um diagnóstico, discriminação e violações dos seus direitos dentro ou fora das várias instituições.

Como falamos na Sinopse eles enfrentam grandes problemas nas áreas de educação, emprego, assistência medicamentosa, entre outros.

Falando um pouco mais sobre a prevalência da taxa de suicídio, segundo a OMS, em 2018 a percentagem era de 14% ao longo de toda a vida entre as pessoas que vivem com doença mental grave.

É possível a recuperação?

Pensamos que nos resta um carinho especial por esta camada sabendo que alguns conseguem fazer a sua vida “normalmente”, mas, esta recuperação, do que lemos é conseguida apenas e ainda em países mais desenvolvidos.

Cabo Verde, enquanto País de Desenvolvimento Médio ainda está e aquém do que todos os que se preocupam por esta temática pretendem em termos de sensibilização, prevenção, promoção dos cuidados de saúde mental. Aqui propomos que o próprio Estado seja um dos pioneiros e parceiros para com estes flagelados que vivem do Vento Leste.

É a análise de campo feita por experiência de vida com a documentação de jornais e de campo, em estado próprio para uma ilha com propensão à doença mental devido ao ambiente do Vulcão, ativo e que tem muito consanguinidade e perturba os deportados da América que chegam com problemas de delinquência e ferem e incomodam a vida dos outros. E são os flagelados do vento leste? Que advogam rendimentos à custa deles… igualmente em Portugal e ilhas do Fogo, de Santiago e São Nicolau ambas com casamentos entre primos, da observação in loco do meio envolvente, nos anos de luta armada e outras épocas de turbulências político-partidárias e pela agitação constante nestes últimos anos. O barulho procurado, as festas, que levam a mais procura de drogas/vacinas em tempos de pandemia. Atualmente em estado de contingência surgem as campanhas eleitorais...

Quem são os outros?

São os nativos? São os nacionais? São os que não têm um «lugar ao sol»...

São os outros cujas referências perderam-se no seu tecido social, no seu bairro ou zona, os que não têm voz.

Quem são os «Loucos»?

Esta foi a homenagem possível a Samuel que infelizmente já não conta para a estatística desde 2009.

*Elsa Fontes é Licenciada em sociologia geral e mestre em Estudos Africanos


[1] Fonte:Lins de Azevedo, Janete Maria, A Educação como Política Publica, 2008, Autores Associados, Brasil

[2] In Sinfonia em Claro-Escuro

[3] Associação de Doentes Maníaco Depressivos, Portugal

[4] Ex-Presidente da República Popular da China

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Autoria:Elsa Fontes*,1 fev 2024 17:15

Editado porAndre Amaral  em  2 fev 2024 9:43

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