Kriol Jazz Festival 2018 rende vénia aos Bulimundo e Os Tubarões

PorChissana Magalhães,19 abr 2018 15:48

Os Tubarões, na sua mais recente formação
Os Tubarões, na sua mais recente formação

Depois do primeiro momento, no dia 14, com o palco Kriol Zona montado no bairro da Várzea, retoma-se hoje o Kriol Jazz Festival (KJF) Praia 2018, agora no tradicional espaço da pracinha da Escola Grande. A noite é de homenagem a dois nomes maiores da música cabo-verdiana, as bandas Bulimundo e Os Tubarões.

Estes dois emblemáticos conjuntos musicais, que marcaram época e produziram alguns dos álbuns mais valorizados da música nacional, foram a escolha da Câmara Municipal da Praia – co-organizadora com a Harmonia do KJF  – para o tributo que tradicionalmente se rende a figuras de relevo da cena musical cabo-verdiana.

Nas edições precedentes, a honra recaiu sobre Horace Silver, Codé di Dona, Césária Évora (até aqui a única figura feminina), Manuel Clarinete, Morgadinho, Dany Silva, Chico Serra e Humbertona. Este ano, pela primeira vez, a homenagem é dupla e incide sobre grupos.

Fundado em 1978, Bulimundo é responsável por uma das maiores inovações ocorridas na música cabo-verdiana ao introduzir instrumentos eléctricos no funaná até então executado com ferro e gaita (acordeão). Mas as novidades não se limitavam aos instrumentos musicais, sendo a música dos Bulimundo uma viragem marcante em todos os aspectos.

Uma das formações dos Bulimundo em viagem aos EUA. Foto: Ron Barbosa)
Uma das formações dos Bulimundo em viagem aos EUA. Foto: Ron Barbosa)

O funaná, que até à independência estava circunscrito aos meios rurais, ganha projecção com a banda liderada por Katchás . Primeiro nacional, com os álbuns “Bulimundo” e “Djam Brancu Dja” (reeditados em 2013) e os bailes populares e, já na década de 80, alcance internacional, com a banda a realizar concertos no estrangeiro.

Integraram os Bulimundo em diferentes fases, para além de Katchás, os irmãos Zeca e Zezé di Nha Reinalda (voz), Santos (guitarra), Timas (bateria), Kim de Santiago (guitarras), Silva(baixo), Zé Carabedja (tumba), Tony e Djon (teclas), Lu di Pala (percussão), Rui (bateria). Zequinha Magra (guitarras), Nonó (sax), Zequinha (voz), entre outros. Alguns dos temas imortalizados pelo grupo eram da autoria de Sema Lópi e Codé di Dona.

Para além dos dois primeiros discos já citados, a herança dos Bulimundo inclui “Batuco”, “Ó Mundo Ka bu Kaba”, “Êxodo”, “Compasso Pilon” (o último álbum com participação de Katchás que deixou o grupo em 1986 e viria a falecer em 1988) e já na década de 90 “Ku Kal ki Bo ta Linha?” e “Ta N’Deria ka ta Kai”.

Por sua vez, Os Tubarões nasceu ainda antes da Independência, em 1969, também na cidade da Praia. A formação original, conforme o “Cabo Verde e a Música - Dicionário de Personagens, de Gláucia Nogueira, incluía Mike Baptista (órgão e director musical), Zezé Barbosa (guitarra e voz), Fortinho (baixo), Chala (clarinete e sax), Duia (bateria) e Xindo (vocalista). Depois entrariam Zeca Couto (órgão), Lolé (guitarra), Luís Lobo (guitarra ritmo), Jaime do Rosário e, já em 1973, entraria Ildo Lobo (falecido em 2004, quando a carreira a solo estava em alta) que se tornou a voz emblemática d’Os Tubarões.

O sucesso do grupo, que à semelhança dos Bulimundo se popularizou com os bailes nas periferias (já no seu caso sobretudo com coladeiras e mornas) mas viria a ganhar o respeito da elite, veio a consolidar-se com a gravação dos dois primeiros LPs: “Pepe Lope” e “Tchon de Morgado”, já com a participação de Mário “Russo” Bettencourt (baixo e tumba). Kim Alves, Totó e Totinho são outros elementos do grupo em fases posteriores. Renato Cardoso, Alcides Spencer Brito, Daniel Rendall, Caló Querido, Manuel d’Novas, Betú e Kaká Barbosa são alguns dos autores dos temas de maior sucesso do conjunto musical que conta ainda na sua discografia álbuns como “Djonsinho Cabral”, “Tabanca”, “Tema para Dois”, “Bote, Broce e Linha” e “Porton d’nos Ilha", o último de originais.

Ambos os grupos passaram por fases de inactividade até o regresso, já no novo milénio e com novos elementos. Entretanto, sem novos trabalhos discográficos anunciados. Têm se dedicado a espectáculos na diáspora e, pontualmente, no país, conquistando a nova geração e alegrando os nostálgicos. Uns e outros certamente estarão presentes na noite de hoje, no arranque do Kriol Jazz Festival, para prestar a devida homenagem aos dois grupos e ao seu histórico legado musical.

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Autoria:Chissana Magalhães,19 abr 2018 15:48

Editado porChissana Magalhães  em  5 fev 2019 10:57

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