“Esperamos que em dois anos conseguiremos ter lucro” - CEO Cabo Verde Airlines

PorAndré Amaral,23 mar 2019 9:44

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Jens Bjarnason, CEO e Presidente da Cabo Verde Airlines
Jens Bjarnason, CEO e Presidente da Cabo Verde Airlines

​Luanda, Lagos e Washington D.C. são os primeiros destinos para onde a Cabo Verde Airlines vai começar a operar, mas o objectivo é alargar as operações para outros destinos na américa do Norte e do Sul, para a África Ocidental e também para a Europa, garante Jens Bjarnason, CEO e Presidente da Cabo Verde Airlines.

O negócio da empresa, para crescer, precisa, também, de ser alimentado pelo mercado interno e as negociações com a Binter Cabo Verde já estão a decorrer com o objectivo de harmonizar os horários. “Esperamos que a Binter se junte a nós para fazer essas mudanças. Se isso não acontecer teremos de procurar outras opções”, diz o novo responsável máximo da Cabo Verde Airlines.

Qual o calendário para a chegada dos aviões que vão reforçar a frota da Cabo Verde Airlines?

Actualmente temos três aviões. Dois têm matrícula cabo-verdiana e estão a ser operados por pilotos cabo-verdianos e um que está em lease pela Icelandair e que é operado por pilotos islandeses. Em todos eles a tripulação de cabine é cabo-verdiana. O quarto avião deverá chegar durante este verão, talvez em Agosto ou Setembro. Por isso esperamos ter quatro aviões até ao final do ano. Progressivamente iremos ter mais aviões.

E em termos de novos destinos. Lagos e Luanda são os primeiros destinos...

Com o quarto avião estamos a planear começar a voar para Lagos e Angola e para Washington D.C. nos Estados Unidos da América.

E que outros destinos é que a companhia tem em vista?

Há vários a serem planeados, mas para já são estes os que já anunciamos, estamos a estudar a abertura de outros destinos conforme formos aumentando a frota nos anos mais próximos. Vamos aumentar a frequência nas rotas existentes e adicionar novos destinos. Mas, como disse, os únicos que anunciamos publicamente foram estes três: Lagos, Luanda e Washington D.C.. Mas estamos a estudar outros, obviamente, que depois serão anunciados.

O anúncio feito pela TAAG de que vão começar a voar para o Sal já em Abril coloca uma pressão extra sobre a Cabo Verde Airlines?

Nós vamos, obviamente, tentar falar com eles, negociar com eles, para ver se conseguimos fazer isto através de alguma forma de cooperação. Temos pessoas, esta semana, em Luanda para falar com eles [TAAG] para ver se podemos colaborar e ver como poderemos fazer. Veremos quais são os resultados. Mas Luanda é definitivamente parte do nosso futuro.

São Tomé e Príncipe também?

Para já estamos a planear apenas a ligação directa entre Cabo Verde e Angola.

Qual é o objectivo que têm para a Cabo Verde Airlines?

É utilizar o aeroporto do Sal como um ponto de ligação entre a América do Sul, a América do Norte, a África Ocidental e a Europa. Fazendo isso teremos um número crescente de e para as ilhas que irá estimular igualmente o turismo em Cabo Verde e dará aos cabo-verdianos a possibilidade de viajar para outros países. Estamos, na verdade, a falar de três mercados: o interno, pessoas de Cabo Verde que viajam para outros países, o segundo mercado é o turístico e o terceiro é o mercado das conexões, ou seja, pessoas que não param necessariamente em Cabo Verde (stopover) mas que viajam entre a América do Sul, por exemplo, e a Europa e que param aqui apenas para mudar de avião no hub do Sal. Há, por isso, três mercados distintos que queremos estimular e fazer crescer nos próximos anos.

Está o aeroporto do Sal, enquanto infraestrutura, pronto para esse aumento de passageiros e turistas?

É o único aeroporto, aqui em Cabo Verde, onde seria possível fazer isto. Por causa das pistas, das zonas de taxiing e de estacionamento de aviões. Se formos bem sucedidos, dentro de alguns anos, teremos de aumentar o tamanho dos terminais e adicionar mais zonas de estacionamento dos aviões. É algo que temos vindo a falar com o governo e o governo entende isso. Mas para já, para os próximos anos, estamos bem. Mas quando começarmos a ver o tráfego a crescer teremos de nos sentar e planear a expansão do aeroporto.

E está o Sal preparado para receber esse aumento de passageiros?

Acho que há limites para o que se pode fazer. Mas penso que relativamente à dimensão da companhia que estamos a prever para o futuro, isso não será um problema. Temos de nos lembrar que nem todas as pessoas que vão voar para o Sal vão ficar lá. Para este modelo de negócio ser bem sucedido tem de estar alinhado com o transporte interilhas, isso é claramente uma chave para sermos bem sucedidos. Temos de dar aos turistas a possibilidade de ir a outras ilhas e dar aos habitantes das ilhas uma ligação fácil aos vôos que partem do Sal.

Vai ser a Binter Cabo Verde a fazer essa ligação ou serão vocês a assegurar o serviço?

Nós estamos a falar com eles e penso que será no interesse de ambos harmonizar os horários, porque assim eles terão mais passageiros nos seus voos e nós teremos mais nos nossos. O que estamos a perspectivar no imediato é trabalhar com eles, se será para sempre não sei.

Uma das maiores queixas de quem chega ao Sal é que depois não há ligação com as ilhas...

Eu sei. A situação actual não é boa e pode ser melhorada. Esperamos que a Binter se junte a nós para fazer essas mudanças. Se isso não acontecer teremos de procurar outras opções, mas para já estamos focados em trabalhar com eles.

Segundo o contrato de venda de 51% das acções da Cabo Verde Airlines o Estado e a empresa comprometem-se a “providenciar uma linha de crédito no valor de 26 milhões de dólares. Qual o fim desta linha de crédito?

O governo entrará com parte, com 49%. Penso que a companhia tem sido gerida com perdas consideráveis. Tem uma operação reduzida e tem vindo a perder dinheiro. Esses 26 milhões de dólares são necessários para investir em novos aviões e gerar mais rendimentos e fazer a empresa ser rentável. É esse o objectivo. Precisamos desse dinheiro para os próximos um ou dois anos, de acordo com o nosso planos de negócios, para aumentar as frequências [dos vôos] e aumentar a capacidade do hub de forma a gerar tráfico para que possa ser rentável. Não se pode ter uma companhia aérea rentável com apenas um, dois ou três aviões.

Qual seria o número ideal para um país como Cabo Verde?

Penso que 12. Se formos bem-sucedidos poderá ser maior. Mas é uma questão de infraestruturas na ilha, do aeroporto e também da capacidade de as pessoas cá acreditarem que podem ter uma companhia aérea de maiores dimensões.

Ainda segundo o contrato a capitalização da empresa será de 12 milhões de dólares de forma proporcional a cada accionista. Esta capitalização vai permitir o quê?

Todas as empresas têm de ter capital próprio. Como em todas as empresas, a capitalização é, em parte, dinheiro que se investe e os empréstimos bancários. A empresa actualmente não tem dinheiro nenhum e é preciso muito dinheiro para dar volta a isso. Parte vem dos bancos e parte vem dos donos como em qualquer empresa.

E quando espera que a empresa possa começar a dar lucro?

Esperamos que em dois anos conseguiremos ter lucro, é para isso que estamos preparados.

O negócio da manutenção aeronáutica que existia na TACV será gerido por vocês ou não faz parte do negócio?

Os aviões que estão registados cá são mantidos cá pelos mecânicos da Cabo Verde Airlines e é esse plano para o futuro. Queremos ter pilotos, tripulantes e mecânicos que sejam cabo-verdianos.

De que forma é que o acontecimentos recentes de proibição de voo dos Boeing 737 MAX, que a Icelandair também opera, podem afectar a colocação de aeronaves na Cabo Verde Airlines?

Acho que ninguém espera que esta proibição se mantenha por muito tempo. Talvez semanas, meses no pior cenário. Já temos contratos de lease assinados para os aviões que estão cá e que vão continuar cá e o próximo quando vier da Islândia, esperamos que os 737 MAX já estejam a voar.

O sistema de wet lease é para manter?

Leva tempo a treinar e formar os nossos pilotos. Penso que faz sentido termos um ou dois aviões em wet lease e depois conforme os aviões forem sendo transferidos para cá, cada vez mais vôos serão operados por cabo-verdianos. É o mais correcto, é uma companhia aérea cabo-verdiana, mas penso que por uma questão de flexibilidade isso poderá acontecer.

O plano de negócios aprovado para a Cabo Verde Airlines prevê que num máximo de 5 anos a companhia esteja a operar com 12 aviões gerando um volume de negócios de 520 milhões de dólares.
O mesmo documento prevê que sejam transportados, nas ligações estabelecidas com a América do Norte e do Sul, a Europa e África, mais de 1,5 milhões de passageiros.
A actividade da Cabo Verde Airlines terá também impacto directo na actividade da ASA e da CVHandling, nos serviços de catering e outras entidades ligadas directa ou indirectamente aos serviços aeroportuários.

Texto originalmente publicado na edição impressa doexpresso das ilhasnº 903 de 20 de Março de 2019.

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Autoria:André Amaral,23 mar 2019 9:44

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  15 dez 2019 23:21

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