Nos 25 anos da Rádio Morabeza

Éramos todos mais novos (e alguns ainda nem cá andavam). Não estive nesse 1º de Maio de 1999. Porém, em 2024, cabe-me a responsabilidade de organizar uma dúzia de parágrafos, capazes de fazer jus à história da Rádio Morabeza, no dia em que cumpre 25 anos de emissões regulares.

No meio de tantas coisas efémeras, um quarto de século no ar merece ser assinalado. Um desafio às probabilidades e um certo acto de resistência. Se a Morabeza nasceu de uma ideia e de uma vontade, continua viva graças à preferência de tantos ouvintes, à persistência de accionistas e administrações, ao esforço e entrega de actuais e antigos trabalhadores e colaboradores, à confiança de inúmeros parceiros. Cada um dando o melhor de si, pela continuidade de um projecto que é por direito parte central do panorama mediático cabo-verdiano.

Aos trabalhadores e colaboradores, meus colegas de luta diária, uma referência especial (que quero deixar aqui, no início do texto, e não no final, em nota de rodapé). São eles que fazem a rádio acontecer. São eles quem, em todos os departamentos, materializam, com talento e dedicação irrepetíveis, todas as ideias e todos os projectos, sempre descobrindo uma forma de fazer o irrealizável. Nunca uma ideia ficou por concretizar por ser demasiado ambiciosa para as nossas capacidades materiais.

Nos últimos 12 anos, aqueles que levamos de parceria com a Media Comunicações, a nossa maior preocupação tem sido trabalhar para oferecer aos ouvintes uma grelha com qualidade e diversidade. Não parámos de crescer. Alargámos a área de cobertura, modernizámos as instalações e melhorámos as condições de trabalho de um quadro de pessoal que aumentou. Porém, os ganhos são voláteis, o processo tem sido lento e estamos muito longe de uma situação confortável.

Apesar de uma gestão altamente profissional e criteriosa, somos prejudicados por um mercado desestruturado que nos impede de dar passos maiores e mais seguros, como ambicionamos. Sendo claro: este crescimento tem sido conseguido apesar das condições adversas em que operamos e na ausência de uma política estrutural para o sector da comunicação social, que consagre a pluralidade dos media enquanto activo democrático.

Da nossa parte, temos feito o que nos compete, o que inclui apresentar a quem quer saber (e até mesmo a quem não está interessado), uma e outra vez, propostas para a melhoria do quadro de operação. Essas propostas passam, por exemplo, por uma redefinição das regras de acesso ao mercado publicitário institucional e comercial, alterações fiscais, maior critério económico no licenciamento de novos operadores (salvaguardando a sustentabilidade dos operadores já licenciados), etc.

Quando está em curso a preparação de uma iniciativa legislativa para regular a distribuição de publicidade institucional, seria bom que daí não resultasse o agravamento da disfuncionalidade já existente, com o mesmo de sempre a receber a maior parte e todos os outros a dividirem o que sobra.

O mercado mediático necessita de regras de funcionamento que permitam viabilidade e fortalecimento dos projectos de iniciativa privada; assim como mais eficiência da contraparte pública. Medidas que levem a maior equilíbrio. Iniciativas isoladas, a cada nova tutela, não têm sido suficientes para resolver o fundamental dos problemas há muito diagnosticados (embora insuficientemente sistematizados).

Uma das marcas distintivas da rádio - de qualquer rádio - é a versatilidade. Tem sido essa a base da sua longevidade enquanto meio. Aos avanços tecnológicos, às mudanças de hábitos de consumo, a rádio tem respondido com invejável capacidade de adaptação, só possível pela sua leveza e agilidade. A rádio é voz, companhia e intimidade. Instantânea, efémera e, simultaneamente, duradoura. Na Morabeza, temos tentado ser tudo isso, oferecendo ao público uma alternativa mediática, com outros protagonistas, outros temas e outras perspectivas.

Somos uma rádio nacional com sede em São Vicente e sempre encarámos a particularidade de termos nascido no Mindelo como um activo, pelo importante contributo para a polifonia do espaço público cabo-verdiano. Num país onde tanto se discute e lamenta o centralismo, o exercício que fazemos é precisamente o contrário.

O que mais ambicionamos para os próximos anos, enquanto perservamos o legado dos últimos 25, é nunca perder a ânsia de futuro, percebendo-o e antecipando-o, sempre que possível. Queremos continuar a falar às pessoas, fazendo-lhes sentido e desassossegando-as. Continuar a ser uma rádio livre, de trato fácil, atenta e exigente.

Mas também nos queremos manter imperfeitos. Arriscar, falhar e tentar de novo. Uma rádio igual a nós, uma rádio igual a si.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1170 de 1 de Maio de 2024

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira, Rádio Morabeza,1 mai 2024 12:08

Editado porFretson Rocha  em  2 mai 2024 11:09

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