​Desporto: O que propõem os partidos?

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Os partidos políticos concorrentes às eleições de 18 de Abril defendem uma maior presença do Estado na promoção do desporto nacional. Apesar de visões diferentes, as propostas têm propósito comum: elevar a qualidade do desporto nacional e melhorar a participação de Cabo Verde nas competições internacionais.

O desporto é o tema de hoje do “Fórum 2021 – A Caminho das Legislativas”, uma edição especial da Rádio Morabeza que também pode ser lida no Expresso das Ilhas.

PAICV

O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) afirma que o desporto não tem recebido o tratamento que merece. O PAICV destaca o papel do desporto na coesão social, aponta o dedo ao actual governo e afirma que não há resultados concretos para o sector, apesar dos discursos. Fidel Cardoso de Pina diz que o sector tem sido valorizado e realizado sobretudo por iniciativa de organizações não governamentais.

“Contudo, como eu disse, só boa vontade de uma minoria não chega. É preciso vontade política, que haja um plano estratégico claro e ambicioso do governo para termos um desporto com qualidade e resultados concretos. Temos que ter um governo que saiba o que quer do desporto, e penso que em matéria do desporto precisamos de muito mais, de maior engajamento não só dos actores políticos, mas dos actores que estão directamente ligados ao desporto”, avalia.

“Temos um governo muito eloquente, de muitas promessas projectos e ideias, mas que na prática não se percebe o que quer ou o que fez pelo desporto. O governo não vem cumprindo o seu papel”, complementa.

O PAICV garante que tem uma visão clara para a área.

“Uma visão de potencializar os desportos a nível individual, bem como outras modalidades que até então têm sido muito pouco contempladas. No entanto, por sermos um país arquipelágico, parece-nos que os desportos náuticos merecem uma atenção especial e, consequentemente, uma aposta significativa. Precisamos apostar nas escolas de formação, investir nas infra-estruturas desportivas e potencializar os que já temos. O caminho para tudo isso é uma verdadeira politica de inclusão dos jovens, à semelhança do que foi feito em vários outros países. Temos que trabalhar com boas experiências e fomentar a capacitação dos nossos quadros para o desporto de alto rendimento”, defende.

Fidel Cardoso de Pina fala na construção de uma nação desportiva, caso o PAICV seja governo, a partir de 18 de Abril. O foco estará na dimensão educativa e social do desporto.

“Sobretudo, para que possamos atingir e alcançar os ODS que são um dos grandes desafios que temos actualmente no país. A nossa proposta irá centrar-se em adaptar as instituições desportivas às exigências e necessidades actuais do desporto nacional e mundial, com gestão focalizada na sustentabilidade, autonomia e independência. Vamos reforçar a função social do desporto, assumir as funções de regulação, fiscalização e apoio técnico, de forma a gerar uma comparticipação financeira e acompanhamento”, garante.

PP

O Partido Popular (PP) crítica o que diz ser uma intervenção casuística do Estado no desporto nacional. Para o partido, o sector tem estado à mercê da persistência e empenho do movimento associativo, dos atletas e, às vezes, do poder local.

Fábio Gomes, do PP, fala numa política desconexa e pouco estruturada, aplicada pelos sucessivos governos.

“O Estado abandonou o desporto em Cabo Verde, abandonou os jovens, não lhes dá nenhum valor. Temos muitos jovens talentosos em todas as áreas, futebol, ginástica, ténis, basquetebol, mas não têm nenhum apoio. O Estado não está a cumprir o seu papel”, considera.

“Temos empenho de movimentos associativos. O desporto sobressai, aqui no país, através, às vezes, do poder local e das associações desportivas. Sem estas últimas nada seria feito”, diz.

Para mudar o actual cenário, o Partido Popular propõe quatro grandes pilares para o desenvolvimento desportivo nacional: a escola, associações desportivas, as autarquias locais e o sector do trabalho.

“O PP gostava de ver, através do Estado, a construção de mais recintos desportivos, mais apoios a desportistas individuais, que não temos, incentivo e apoio ao desporto aquático, entre outros. Queremos uma melhor implementação da lei do mecenato para o desporto, elaboração de um programa de desenvolvimento desportivo, a partir da acção coordenada das entidades que coordenam o desporto nacional, a ser estruturado numa óptica que completa as necessidades de desenvolvimento nacional e regional”, ambiciona.

O PP pretende implementar uma política transversal aos ciclos políticos e que inclua todas as modalidades.

“Queremos um incentivo do Estado ao desporto que vá além dos cinco anos do mandato. Não estamos a ver isso. Quando os jovens estão ocupados no desporto, nas diversas modalidades, não há tempo para entrarem noutros caminhos desviantes. Queremos também que sejam criadas as condições para que o desporto escolar passe a ser uma realidade estruturada na vida da população escolar e que integre o sistema nacional de educação”, propõe.

PSD

O Partido Social Democrata (PSD) defende a criação de condições para que todas as pessoas tenham disponibilidade financeira para poderem praticar qualquer tipo de actividade desportiva. O coordenador político nacional do PSD, José Rui Além, diz que o Estado não pode condicionar a promoção desportiva.

“O Estado toma conta de tudo. Eu preferia, sinceramente, que as pessoas tivessem disponibilidade financeira para que pudessem optar. Eu gostaria de ter associações locais que desenvolvessem actividades desportivas e as pessoas pudessem escolher o desporto que quisessem. Mas o Estado tenta controlar tudo e não dá rendimento às pessoas”, lamenta.

“Com disponibilidade financeira, nós, os cidadãos, seríamos turistas durante o ano inteiro aqui em Cabo Verde e pagávamos a natação e outras escolas de desporto e não dependemos apenas da vontade daquele que está no poder”, sugere.

Para o PSD, a posição dos governos do PAICV e do MpD relativamente ao sector do desporto não deixa espaço para que os cidadãos possam ter liberdade na prática de actividades desportivas. Por outro lado, entende que o Estado deve apoiar os atletas de alto rendimento.

“Não pode continuar a ser o Estado a decidir. Nem o MpD, nem o PAICV, querem que as pessoas sejam livres. Mas o Estado pode apoiar, independentemente da cor política, projectos para a natação, para o boxe, para as corridas, para que se encontrem heróis nacionais em qualquer área do desporto”, defende.

José Rui Além considera que a liberdade que o Estado deve dar passa por colocar dinheiro no bolso das pessoas.

“Isso depende tudo da liberdade financeira das pessoas. Deve-se colocar o dinheiro que o Estado anda a roubar há muito tempo no bolso das pessoas. Com essa liberdade, as pessoas decidem que desporto escolher. É isso que o PSD propõe – a dignidade da pessoa humana”, realça.

PTS

O Partido do Trabalho e da Solidariedade (PTS) critica a falta de um plano estratégico integrado de apoio ao desporto nacional, nas diversas modalidades. Para o partido, o que se regista ao longo dos anos é a desvalorização política constante do valor social do desporto.

Jailson de Aguiar, cabeça de lista do PTS pelo círculo eleitoral de São Vicente defende que é preciso olhar o sector como um todo, e que a verba disponibilizada no Orçamento do Estado deve ser maior.

"Temos tido vários jovens que querem participar nos jogos olímpicos mas não têm tido apoio. Entendemos que no Orçamento de Estado deveria ser aumentada a verba para o sector do desporto, principalmente para outras modalidades que não apenas o futebol. Temos os atletas paralímpicos que têm que pedir apoios fora. Acho que é preciso criar mais condições para que os jovens se sintam apoiados e sigam as modalidades desportivas, porque, futuramente, se quisermos desenvolver através do desporto, temos que apostar mais e não só no futebol”, constata.

“Temos voleibol, basquetebol, andebol, onde recentemente a selecção enfrentou problemas na aquisição dos vistos. Isso é derivado também à forma como a política para o desporto é feita”, recorda.

O PTS quer uma atenção especial para atletas de alto rendimento, sobretudo de modalidades individuais, para facilitar a sua participação nas provas internacionais.

"Poderia ser atribuído um passaporte diplomático para os jovens desportistas para que não tenham problemas com os vitos quando vão representar o país lá fora. Embora as deslocações não sejam frequentes, quando isto acontecer, não têm que se preocupar com a documentação para aquisição de vistos. Isto para facilitar o processo, incentivar os jovens e permitir que deem o seu máximo, conscientes que têm apoio”, entende.

O Partido do Trabalho e da Solidariedade considera que é preciso trabalhar para acelerar a retoma desportiva no país. A criação de um plano estratégico de incentivo à pratica desportiva e de apoio aos atletas é outra proposta do PTS.

"Estamos num país com muitos atletas, mas que acabam por desistir de seguir este caminho por falta de apoio. O PTS quer ser mais uma voz para os jovens, queremos apoiar o desporto para que os nossos atletas possam sentir que têm apoio e possam focar-se nas suas modalidades, irem para os jogos olímpicos. É preciso criar as condições para todas as modalidades”, insiste.

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UCID

A União Cabo-verdiana Independente de Democrática (UCID) entende que os investimentos no desporto ficaram condicionados nos últimos anos por causa da seca e da pandemia de COVID-19. Mas o partido considera que, mesmo assim, era possível fazer mais, principalmente para as ilhas com menos condições desportivas.

Pela voz de Albertino Garcia, a UCID diz que a visão do Governo para o sector deixou muito a desejar.

“O investimento no desporto nos últimos cinco anos ficou um pouco condicionado pela seca, para onde foram desviados recursos para mitigação. Depois tivemos a pandemia, mas sem dúvida poderiam ter feito mais. Quando temos ilhas que ficam para trás, como a ilha do Maio, em termos de infra-estruturas. O Maio tem um estádio municipal relvado, mas não temos um campo de treino relvado alternativo. As oito equipas da primeira divisão e quatro da segunda treinam no mesmo local”, exemplifica.

“Consideramos que houve algum investimento, mas muitos ficaram condenados à própria sorte. Então, o resultado final não pode ser positivo, ficou muito a desejar”, avalia.

A UCID aponta a dificuldade de patrocínio e a falta de uma aposta no desporto de formação, para que o atleta adquira conhecimentos e aperfeiçoe a sua capacidade técnica. Albertino Garcia lembra que o desporto também é saúde e que por isso precisa de mais investimentos.

“O sector da saúde, por exemplo, depois da pandemia, ficou como prioridade número um. Mas desporto também é saúde e por isso é preciso fazer investimentos. É preciso equipamentos e os campos relvados devem ter pistas de tartan. Quando um atleta treina em pistas de terra, quando vai para uma pista de tartan, logicamente que o resultado não é igual. Cada desporto deve ter onde fazer treinamentos e competições, para que possamos ter melhores resultados”, defende.

Os democratas-cristãos lembram que Cabo Verde tem vários atletas que se destacam a nível internacional. Por isso, defendem uma maior aposta no desporto individual, criando condições para que o país possa ter atletas de alto rendimento nas maiores competições desportivas mundiais.

“Atletas cabo-verdianos têm estado a destacar-se a nível nacional e internacional. Temos vários desportistas que saíram do país e que agora são destaque nos seus campeonatos. Temos que dar aos nossos atletas as mesmas condições encontradas lá fora, pelo menos tentar chegar próximo. Temos que investir nos nossos atletas para representarem o nosso país, porque Cabo Verde tem ganhos com isso. Onde há resultado há retorno”, realça.

MpD

O Movimento para a Democracia (MpD) garante que o desporto tem hoje mais e melhores condições do que em 2016. O partido, pela voz de Fernando Elísio Freire, que nos últimos cinco anos tutelou a pasta do Desporto, afirma que, primeiro, o sector foi formatado para fazer a sua ligação ao turismo, o que permitiu realizar grandes eventos, como os Jogos Africanos de Praia, o Campeonato das Nações de Andebol, o Campeonato das Nações de Basquetebol sub-18 e a etapa do campeonato do mundo de kite-surf.

Em segundo lugar, diz Fernando Elísio Freire, o MpD implementou aquilo que considera a maior reforma institucional no sector do desporto, com a criação do Instituto do Desporto e da Juventude.

“O que aumenta a autonomia e decisão dos agentes desportivos, reforça o orçamento para o desporto, permite maior monitorização de todas as políticas desportivas. A criação do Instituto do Desporto e da Juventude foi, de facto, um grande marco da nossa governação”, sublinha.

“Nós também criámos outro grande marco que foi o programa mexe mexe que é um programa nacional de actividade física, de forma a levarmos a actividade física para todas as idades e todas as localidades do nosso país. Criámos o centro de alto rendimento no Estádio Nacional, onde temos professores pagos pelo Governo, especialistas nas várias modalidades, para cuidarem dos nossos jovens com talento e, a partir dali, avançarem para as modalidades desportivas com todas as condições de terem sucesso”, aponta.

Fernando Elísio Freire aponta que o seu Governo desenvolveu, regulamentou e tornou mais eficaz a bolsa atleta.

Destaca ainda a criação da Organização Nacional Antidopagem, a regulamentação das escolas de iniciação desportiva, o regime jurídico específico das seleções nacionais e a alteração da lei das pensões nacionais, no sentido de incluir os atletas que representaram a selecção nacional e que chegaram aos 65 anos sem qualquer tipo de reforma.

O candidato às eleições de 18 de Abril não esquece as infra-estruturas edificadas em vários pontos do país, e já tem projectos para o próximo mandato, caso o MpD seja reeleito para o governo.

“Para o próximo mandato temos uma ideia muito clara que é continuar a reforçar a ligação do desporto ao turismo, ou seja, continuarmos a apostar na realização de grandes eventos internacionais em Cabo Verde. Já criámos todas as estruturas, já temos a legislação, a questão da antidopagem, temos pessoas capacitadas. Vamos continuar a fazer essa ligação entre o desporto e o turismo e, em 2024, iremos realizar o Campeonato Africano das Nações de Andebol feminino. A nível das infra-estruturas o nosso foco é claro: levar um pavilhão desportivo para cada ilha de Cabo Verde, continuar o nosso relacionamento com as Câmaras Municipais e comparticipar no financiamento das infra-estruturas nas localidades”, promete.

Criar uma rede de fisioterapeutas e de preparadores físicos ao serviço dos clubes não federados é outra das apostas.

“Continuar a regulamentar as escolas de iniciação desportiva, colocar um monitor especializado das respectivas modalidades junto a cada escola de iniciação desportiva e apoiar os clubes informais com preparadores físicos e fisioterapeutas, criando uma rede de fisioterapeutas e de preparadores físicos que estejam ao serviço dos clubes informais. Isto tem uma grande vantagem, que permite aos clubes que não estão federados trabalharem de uma forma mais organizada e terem acesso a todas as condições para a prática da actividade desportiva. No próximo mandato, uma percentagem das receitas dos jogos sociais de fortuna e azar será dedicada integralmente para o sector do desporto”, assegura.

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O Fórum 2021 - a caminho das legislativas - é o programa de cobertura eleitoral da Rádio Morabeza. Pode ouvir-nos de segunda a sexta-feira, até 16 de Abril, às 09h00 e às 17h00, em 90.7 (São Vicente, Santo Antão e São Nicolau), 93.7 (Santiago, Maio e Fogo) ou radiomorabeza.cv.

A ordem de apresentação dos partidos segue um critério alfabético na primeira edição (05/04) e rotação a partir daí.


*Nuno Andrade Ferreira (edição), Ailson Martins, Fretson Rocha, Lourdes Fortes

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Autoria:Rádio Morabeza, Expresso das Ilhas,12 abr 2021 12:32

Editado porAndre Amaral  em  17 jan 2022 23:20

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